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O descanso é um dos hábitos mais estratégicos que um profissional pode cultivar. Crédito: marcinmaslowski

Allan Costa

Allan Costa

Allan Costa é empreendedor, investidor-anjo, mentor, escritor, motociclista e palestrante em dois TEDx e em mais de 100 eventos por ano. Co-fundador do AAA Inovação, da Curitiba Angels e Diretor de Inovação da ISH Tecnologia. Mestre pela FGV e pela Lancaster University (UK), e AMP pela Harvard Business School.

Você, amanhã

Vício de ocupação não é produtividade

06/05/2025 12:49

Observando a correria do dia a dia, ocupação e o ritmo acelerado com que encaramos nossas tarefas, me veio uma reflexão: a gente precisa descansar se quiser produzir melhor. E quando falo em descansar, não é estar “meio lá, meio cá”: o pé na areia, e a mão no notebook respondendo e-mail. Não. Estou falando de descanso intencional.
Vivemos numa era de exaustão glamurizada. É quase chique dizer que não tem tempo para nada. Exercícios físicos, tempo com a família, férias, alimentação decente? Jamais. Isso é tempo de produção jogado fora. Que erro. 
Todo mundo já ouviu — ou até disse — frases como “não tenho tempo nem para respirar” ou “dormir é para os fracos”. Transformamos o cansaço em medalha e a agenda lotada em símbolo de status.
Mas para pra pensar: se Joãozinho precisa de 300 reuniões para resolver um problema e Mariazinha resolve o mesmo em duas... quem foi mais eficiente?
Exato: Mariazinha. Mas Joãozinho, que se estafou em 300 reuniões, ainda assim parecerá mais produtivo, mais comprometido. Isso porque confundimos ocupação com resultado. Produtividade não é sobre estar ocupado — é sobre gerar resultado com inteligência.
Se você ainda vive na lógica do “sem tempo para nada”, aqui vai um spoiler do seu futuro próximo: burnout, relações pessoais desgastadas, problemas crônicos de saúde e, pasme, produtividade baixa ou inexistente.
Pode soar contraintuitivo, principalmente para quem acha que viver correndo é bonito, mas o descanso é um dos hábitos mais estratégicos que um profissional pode cultivar. Ninguém consegue manter uma mente criativa, afiada e estratégica operando em ocupação o tempo todo. Toda máquina precisa de manutenção. E você, lembre-se, não é uma máquina.
Vocês sabem: sou um defensor convicto da consistência, da disciplina e do trabalho bem feito. Mas aprendi, ao longo da minha jornada como executivo, empreendedor e investidor, que descanso não é o oposto do trabalho — é parte dele.
É no intervalo que surgem as melhores ideias. Justamente porque você dá espaço para pensar diferente, respirar, sair do automático. É ao desacelerar que a gente enxerga o que estava ali, bem na nossa frente. É na pausa que o novo se organiza dentro de nós.
O mundo corporativo ainda valoriza quem responde e-mail à meia-noite, quem se gaba de não tirar férias há anos. Mas isso não é força. É vício de ocupação. E vícios, por definição, nos escravizam.
Empreendedores, executivos, profissionais de todas as áreas: não estamos numa corrida de 100 metros. Estamos numa maratona. E ninguém termina uma maratona no sprint. Vence quem sabe equilibrar esforço e recuperação no longo prazo.
Alta performance não nasce no cansaço extremo, mas na sabedoria de saber a hora certa de ir com tudo — e a hora certa de parar. Descansar não é preguiça. É estratégia, é o que diferencia quem só corre de quem chega longe.
E você? Quando foi a última vez que descansou de verdade?