
Flávia Oliveira
Instituto Cidades Inteligentes
Gestão de pessoas na tecnologia: como reter talentos em um mercado cada vez mais competitivo
Em um mercado de TI aquecido, onde há competição constante por profissionais qualificados, reter talentos deixou de ser um desafio exclusivo da área de Recursos Humanos e tornou-se uma prioridade estratégica. Quando a rotatividade aumenta, os custos dos projetos sobem, a entrega perde ritmo e o conhecimento técnico se perde junto com os que partem. Portanto, compreender o que leva alguém a permanecer na empresa é tão importante quanto acertar na contratação.
A remuneração é o primeiro aspecto desse processo. Isso porque na área de tecnologia é constante o recebimento de propostas externas, principalmente para profissionais que trabalham com dados, cibersegurança e inteligência artificial. Dessa forma, desconsiderar o salário não é viável, pois ele deve estar alinhado com o mercado e com o grau de responsabilidade do cargo.
No entanto, a decisão de ficar raramente se baseia apenas nisso. Empresas que oferecem uma remuneração justa, juntamente com um pacote de benefícios que realmente auxilia no cotidiano, como cobertura de saúde abrangente, suporte psicológico, iniciativas de bem-estar, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, além de investir na qualificação dos profissionais, costumam reter talentos de qualidade. No final das contas, o que pesa é o conjunto: viabilidade financeira e como é a experiência de viver lá diariamente.
A flexibilidade é o segundo fator. Para muitos profissionais de TI, modelos remotos ou híbridos bem estruturados deixaram de ser um diferencial e passaram a ser um requisito básico. A flexibilidade amplia a autonomia, reduz o desgaste com deslocamentos e possibilita que o profissional gerencie sua rotina de forma mais eficiente para garantir a qualidade do trabalho. Além disso, o trabalho remoto possibilitou oportunidades fora da cidade e até mesmo do país. Se a concorrência tem a liberdade de contratar de qualquer lugar, adotar modelos flexíveis é uma estratégia direta para permanecer competitivo.
Em terceiro lugar está o desenvolvimento. A área da tecnologia muda rapidamente e ninguém quer ficar parado enquanto o mercado avança. Porém, cursos, certificações e especializações são caros e demandam tempo. Sendo assim, quando a empresa financia isso e proporciona um espaço real para aprendizado, a mensagem é clara: "Queremos você aqui para o próximo passo".
Trilhas técnicas estruturadas, mentorias, comunidades internas de troca, incentivo à participação em eventos e tempo reservado para estudo são eficazes porque se tornam realidade, não apenas promessas. Justamente por isso, quando alguém percebe que está se desenvolvendo internamente, a probabilidade de buscar isso externamente diminui.
Por fim, existe o propósito. Entender o motivo da construção de algo e não apenas o que precisa ser entregue, é um diferencial. Além disso, compreender o efeito de um produto ou serviço torna o trabalho mais tangível e estimulante. Por exemplo: se a equipe percebe que sua solução diminui filas, aprimora um serviço público, facilita a vida de um cliente ou amplia o acesso a um direito, o trabalho cotidiano adquire um novo significado. Neste contexto, propósito não é um slogan, mas sim uma definição clara do impacto e da proximidade com os resultados entregues.
Pode-se dizer, então, que reter talentos em tecnologia passa pelo equilíbrio entre frentes complementares: remuneração compatível, flexibilidade que funcione na prática, investimento em saúde e bem-estar, desenvolvimento contínuo e sentido no que se faz. Empresas que conseguem alinhar esses elementos constroem ambientes onde as pessoas performam, crescem e, sobretudo, escolhem continuar.
*Flávia Oliveira é graduada em Direito e em Gestão de Recursos Humanos, com especialização em Psicologia Organizacional e Gestão de Pessoas. Atua como Coordenadora de Desenvolvimento Humano Organizacional no Instituto das Cidades Inteligentes. Possui cinco anos de experiência em Recursos Humanos e, atualmente, é responsável pela condução dos ciclos de performance, programas de desenvolvimento, iniciativas de engajamento, saúde mental e bem-estar, além de recrutamento e seleção.



