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Felipe Bombardeio, Luan Trindade e o professor Eduardo Todt, do departamento de Informática da UFPR. Os três são parte da equipe de desenvolvimento do Lucas. Crédito: divulgação / UFPR.

Open source

Prazer, Lucas: assistente virtual da UFPR ajuda idosos em tarefas digitais

Bruno Raphael Müller
Bruno Raphael Müller
26/08/2025 11:50
Com uma população de mais de 33 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o Brasil enfrenta o desafio de garantir a inclusão digital de um público que nem sempre se sente à vontade com a tecnologia. Para resolver essa questão, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolveram o Lucas, um assistente virtual gratuito e de código aberto, projetado para aumentar a autonomia de idosos em suas atividades diárias.
O projeto integra tecnologias de transcrição de voz, compreensão de linguagem natural e síntese de fala, respondendo a comandos para ajudar com tarefas rotineiras, desde lembretes até a busca por informações.
Encontrando o tom certo
O desenvolvimento do Lucas partiu da necessidade de oferecer um assistente adaptado às particularidades do público idoso, que muitas vezes encontra barreiras com a tecnologia e pode se sentir marginalizado pela falta de ferramentas acessíveis. A proposta é justamente preencher essa lacuna e promover a independência. "O Lucas é um assistente desenvolvido para suporte a idosos. Ele foi pensado para compreender comandos em português e realizar um conjunto de tarefas específicas, como a busca por temperatura, auxílio em lembretes e tarefas gerais, para tirar dúvidas e tudo mais”, explica Luan Matheus Trindade Dalmazo, estudante de Informática Biomédica e um dos pesquisadores envolvidos.
Um dos desafios técnicos mais significativos foi otimizar os recursos de voz e linguagem para padrões de fala distintos, que podem variar em entonação, ritmo e volume. No entanto, a equipe priorizou o uso de tecnologias abertas, o que possibilitou uma base flexível. “Para a transcrição de voz e compreensão de linguagem natural, utilizamos modelos já treinados para lidar com uma ampla variedade de sotaques, entonações e faixas etárias”, comenta Luan.
Ele acrescenta que o modelo de linguagem é capaz de compreender o contexto da conversa, o que é fundamental. “Assim, mesmo quando uma palavra é transcrita errada ou não é captada, o sistema consegue inferir corretamente a intenção do usuário”, detalha, mostrando a robustez do sistema em situações do dia a dia.
Decisão de ser open-source também foi influenciada para ter mais confiança por parte do público-alvo do Lucas, explicam criadores. Crédito: divulgação / UFPR.
Decisão de ser open-source também foi influenciada para ter mais confiança por parte do público-alvo do Lucas, explicam criadores. Crédito: divulgação / UFPR.
Código disponibilizado para todos
O código aberto é o pilar fundamental do Lucas, diferenciando-o drasticamente dos assistentes comerciais que funcionam como “caixas-pretas”. Segundo Luize Duarte, estudante de Ciência da Computação e também pesquisadora do projeto, essa abordagem é estratégica para construir confiança. “O uso de ferramentas open-source e a disponibilização do código no Github são fatores a contribuir com a transparência do sistema, além disso, não há armazenamento de informações sensíveis”, ela explica. Isso cria um contraste com os modelos comerciais, que nem sempre esclarecem como os dados dos usuários são coletados e utilizados.
A transparência foi uma decisão consciente para atrair um público que frequentemente tem receio de novas tecnologias. “Durante o desenvolvimento do Lucas, tomamos diversas decisões para torná-lo mais atrativo e confiável para o público idoso, que muitas vezes demonstra um maior receio em relação a novas tecnologias. Assim, adotar uma abordagem open-source fortalece a confiança do usuário”, afirma Luize, destacando a importância da segurança e da privacidade para essa faixa etária.
Embora o assistente já esteja funcional, a equipe foca na usabilidade e na acessibilidade de distribuição. “O projeto ainda está em sua fase inicial, tendo sua primeira versão finalizada. Seguimos avançando no desenvolvimento para que ele chegue ao público idoso com uma interface simples e de fácil instalação, que não requererá um conhecimento técnico prévio”, destaca Luize, ressaltando que a proposta é justamente atender esse público que enfrenta dificuldades em acessar as novas tecnologias. “Afinal, a proposta é justamente atender esse público que muitas vezes enfrenta mais dificuldades em acessar e usufruir das novas tecnologias”, reforça ela.
A pesquisadora diz que o projeto passará por validações, incluindo a submissão a um comitê de ética, e será documentado para facilitar o entendimento inicial de sua estrutura. A equipe do laboratório Visão, Robótica e Imagem (VRI) já vislumbra a integração do assistente com robôs autônomos, uma das funcionalidades futuras mais promissoras. 
“O laboratório onde o Lucas foi desenvolvido também possui uma linha de pesquisa voltada para robôs autônomos. Como já realizamos testes iniciais de execução do assistente em uma base robótica, vemos essa integração como uma das possibilidades para o futuro do Lucas”, conta Luan.
Natureza colaborativa como forma de acelerar inovação
O Lucas nasceu como um projeto gratuito, e sua sustentabilidade a longo prazo reside na colaboração comunitária. “O open-source tem como essência a colaboração de uma comunidade e acreditamos muito nesse potencial dentro da pesquisa acadêmica, onde um projeto naturalmente leva ao surgimento de outro”, explica Luize. Ela acredita que a natureza colaborativa da pesquisa pode gerar um ciclo contínuo de inovação e aprimoramento. 
Apesar de ainda não haver parcerias formais estabelecidas com o setor público ou organizações não-governamentais, a equipe considera essa possibilidade como uma forma de garantir o suporte e a evolução contínua do assistente. 
A publicação de um artigo científico na conferência BRACIS, a ser divulgado pela Springer Nature, também contribui para a visibilidade do projeto e pode atrair mais pesquisadores e instituições interessadas. O documento, que descreve a arquitetura e os testes de performance, é mais uma camada de transparência e incentivo à colaboração. “Embora ainda não tenhamos parcerias formais estabelecidas, o crescimento do Lucas abre portas para o futuro”, aponta Luize.